quarta-feira, 3 de julho de 2024

Ponta do abismo


Na iminência entre o abismo e o bem-estar,  

Qualquer desconforto consegue me derrubar.  

Os pedaços da alma insistem em se fragmentar,  

Talhando, assim, a chance de recomeçar.


"O amanhã será diferente", me pego a pensar;  

Mas, ao amanhecer, torno a falhar.  

Estou sempre tentando me reconstruir;  

Meu castelo de areia vive a ruir.


Minhas lágrimas partem direto ao coração,  

Pois dos olhos não saem mais.  

Sinto, ao mesmo tempo, a pior emoção:  

De me encontrar? Jamais!


Com sorrisos, tento disfarçar,  

Alguma parte da minha alma há de se renovar.  

Busco alternativas para me entreter,  

Pois pensar cansa e chega a doer.


O anjo não consegue mais se comunicar;  

Tem sido assim há tantos anos.  

A luz que antes podia me iluminar,  

Apagou-se, destruindo meus planos.


Esses desejos que um dia estiveram aqui  

Foram, tempo a tempo, enterrados.  

Minha mente sempre rebobina o seu partir,  

Pois essa ação deixou meus ombros pesados.


Por isso, qualquer desconforto consegue abalar.  

A água quente não consegue mais limpar,  

Tampouco relaxar.  

Coração que bate pesado,  

Cansa,  

Para de andar,  

E não sai mais do lugar.


Igor Gonçalves