domingo, 17 de outubro de 2010

Sobre o medo

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Sobre o medo
Foi-me pedido um pouco de silêncio, a mim mesmo. As vozes ecoaram vorazmente ao meu coração e não pude controlar o desejo incontrolável de fugir. Não poderia fugir, não poderia desatinar, estava em apuros.
Em apuros, porque é perigoso. Perigoso por quê? É medo do que? Ande! Responda logo! Nem eu sei essa resposta, é uma sensação que foge do controle dominando todas minhas ações, deixando-me refém do medo.
É assim que funciona, achamos que podemos pular os obstáculos, pois já possuímos vasta experiência de vida, mas a vida sempre trás novidades e fica impossível de prever o que irá acontecer. Os tombos vão chegando cada vez mais fortes e o que eu tiro disso tudo é que eu aprendi demais, por errar demais.
Os minutos e as horas tornam-se devastadores, pois o medo desce como um elevador em alta velocidade, que rasga todas as epidermes do meu corpo e deixa essa vontade louca de fugir em estado de alerta. Eu preciso encontrar uma fuga, alguma sala onde a mobília não seja feita para o medo se acomodar... Uma sala pra mim.
      Lembro-me de cada situação que senti medo, lembro-me de todas. As mãos mexendo-se sem parar, o cabelo que não ficava quieto e a sensação de estar à beira de um precipício onde o medo aparecia bem atrás de mim, com as mãos em minhas costas.

Hoje possuo ancoras presas a minhas pernas. Elas fazem-me descer nesse profundo oceano que o medo reproduz. Consigo subir de volta e quando acho que tudo está sob meu controle, sou puxado ferozmente ao fundo do mar. Afogo-me no medo e depois sou encontrado em terras firmes lamentando a mais uma derrota. A cada derrota, eu aprendo mais e talvez o medo faça parte de todos os seres humanos. Pode até ser um professor maluco que lhe impõe as piores lições, mas saiba Medo, que você pode agir de um jeito inovador e astuto e deixar-me em condições precárias de pensamentos, porém, chegará uma hora em que eu passarei por tudo isso e poderei vencer-lhe. Apenas saiba disso, pois a cada derrota vem uma nova experiência e a cada experiência surgem em meu corpo mais forças para lutar. É esse o modo que diferencia-me dos outros, pois não quero criar uma guerra interna com você... Apenas quero mostrar-lhe que sou melhor.
Como é que você pretende lidar com isso? Conheço mil formas de se proceder; mais da metade delas parecem mais sensatas, ao meu ver. Nessa constante mudança de mares, tenho fugido para cada vez mais longe da fumaça dessas explosões.

Hoje, distante a ponto de te ver como um minúsculo ponto próximo à curva do horizonte, encontro-me às portas de uma nova vida, aquela vida que eu sempre procurei: viver procurando. A memória recente de uma longilínea silhueta ornada pelos iluminados prédios da metrópole, mesmo sendo fruto de um mero retrato imaginário e possivelmente efêmero, tem me guiado para longe da tua guerra. E para cada vez mais longe da terra firme. Aqui a água é fria, e a hipotermia me força a dar braçadas cada vez mais convictas, em sentido oposto ao dos teus passos.

Igor Gonçalves

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Viver é muito mais do que encontrar conceitos, belas frases. E nesse pequeno discurso cheio de erros de concordância e rimas toscas, tento dizer que o essencial não é visível aos seus olhos