sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Inverno Devorador




 

Quando o céu em chamas revelar

Um trem inebriado carregando nossas sombras 

O pulsar do Sol congelante diverge em ondas

Destoando a imagem que quero mostrar.


Meus impérios clamaram pela volta do Rei 

Que em outra constelação agora está 

Quem é que vai memorizar o que fraseei

Na sinfonia de tudo que há.


Sou Zéfiro por dentro

Mas às vezes me torno Bóreas 

A inconclusão de saber se sou centro 

Me devora a alma clamando por histórias. 


Há de se pensar que um dia pude refazer 

O mais normal é perecer 

Porém, não vou esmorecer o que me ilumina 

Pois no final sou estrela vespertina. 


domingo, 14 de novembro de 2021

Soneto da Admissão

 Em tudo o meu amor se faz presente 

Com cuidado penso em continuar 

Amar é tudo aquilo que deve importar

Do meu coração que muito sente.


Posso viver o romance intensamente 

Espalhando as notas de um canto sem fim

Arranha-me suas unhas cor carmim 

Suas marcas incendeiam eternamente.


E o fogo do qual sinto queimar 

Não machuca, mas espalha 

Sou gentilmente prisioneiro do seu coração.


Mas posso fugir da minha falha 

Pois ela não deixa tudo ser em vão 

Me faz ser humano pronto para melhorar.


Igor Gonçalves 

quarta-feira, 14 de julho de 2021

Sobre ir, voltar e desistir

 Meu lado sombrio pode te iluminar?

Meu coração frio consegue te aquecer?

As sombras que carrego vão te acompanhar 

Ou vão te escurecer?


O tempo que perdemos me deixou culpado

Você o sol em vida acabou nublando 

Sinto que te prejudico ficando ao seu lado

Mas não te esqueço nem mesmo sonhando. 


Será que a força do amor é a mais forte?

Não vejo saídas ao meu desespero sombrio 

Cada dia que passa sinto aproximar a morte 

E minha angústia deixa tudo mais frio. 


Não querer arriscar por medo de você se perder 

No meu espaço sem fim onde tudo se queimou 

É ser maldoso deixar você entrar e viver 

Em um ambiente que nada restou. 


O quarto decorado se deteriorou 

As memórias parecem histórias de mentira  

Hoje acorrentado e preso estou 

Vivendo raivoso, sofrido e cheio de ira.


Questiono-me porque tem que ser assim 

A consciência de que posso existe 

Mas a língua que me expresso é pior que latim 

E por fim, deixo-a triste. 


Preciso me libertar e tirar esse peso das costas

O mundo que carrego me aprofunda 

Me deixa corcunda e não passo de apostas 

Mal sucedidas em te dar uma vida conjunta.


O meu relógio despertou 

E não precisei acordar 

Mais uma noite em claro estou 

Nem lágrimas tenho para chorar. 


Igor Gonçalves

domingo, 16 de fevereiro de 2020

Movido a vapor



Tormento bucólico 
Lamento clichê do amor 
Achar que é dulcícola
Cai ferido em mais um dissabor.

A peça mais nova do ator 
Resume a teimosia de sua paixão 
Já são 11h15 e ainda é escuridão.

Fazer mais é viver menos 
Acelerar mais e não olhar o retrovisor 
Deixar parado e fugir 
É ar o frio seco dessa cor. 

A vida prega um prego que não vai mais sair
Escuto de longe, não posso dormir 
O doce e sereno frio da rua 
É tão distante como morar na Lua.

Estou sem pressa e não posso mais sair daqui 
Em todos os esgotos tive que ir 
Mas os desgostos que engoli 
Digeriram aquilo que senti.

Tampouco me apresso 
A sombra me enegrece 
Quero romper o processo 
Essa é minha prece.

Igor Gonçalves (02/2020)

quarta-feira, 10 de julho de 2019

Arrefecido



Mãos que carregam o limbo 
Reerguem o que quis arrefecer 
Esse mundo de lodo ora caos, ora lindo 
É a presa fácil do que quer me adoecer. 

O peito estourado é um babel 
Dispersa vários ruídos dissonantes 
Vem ventania que corta como cinzel 
Todos esses agridoces instantes. 

Por fora aparentar a maior fortaleza 
Por dentro se aguentar como anjo sem asas
Que de tanto voar sem rumo perdeu leveza
E caiu perdido nesse monte de estradas.

Em minha tentativa de viver o romance 
Falhei ao colocá-lo como ator principal
Do filme da vida cheio de nuance 
Que se confunde com meu ideal.

Uma ferramenta que pode me levar onde for
Mas que não é indispensável 
Sem antes conhecer meu amor 
Aquele próprio que fiz anulável.

Ecoa em meu peito uma vontade insaciavel 
De reverberar por mim uma força motriz 
Capaz de me tirar do abismo que criei 
Inundar meus versos em algo que não sei.

Mas tento conceituar 
Os olhos de outrora não vieram me resgatar 
Os meus abertos não conseguem reconhecer 
Que mundo é esse sem você?

Criei algo tão forte 
Tão prematuro 
Eu relaxei
Sem estar seguro.

A chuva logo vem 
Que medo é esse?
Perdi a fé em tudo 
Não há interesse. 

E logo no escuro 
Estou distraído 
Sou logo consumido 
Sou destruído.

Palavras já não podem me derrotar
Quem é que vai ocupar 
O seu lugar? 

Já faz tempo em que conheci 
E não aprendi 
Aquilo faz insistir 
Mas por pouco tempo nos faz sorrir.

A felicidade é curta 
Nossa voz é muda 
Alguém me escuta

Meu coração parou.

Igor Gonçalves 


segunda-feira, 8 de julho de 2019

Meu pesar


O que escrevi ficou no papel 
Me entrenti em um mundo cruel 
Disseram que meu erro foi se entregar 
Para alguém que não tinha nada para dar. 

Cancelei meu romance antes do lançamento 
Vi que não era o momento 
Abracei meus sonhos idealizados 
Mantive-os presos em mim como escravos. 

Essa idéia de que o não é opção
Me corrói da alma ao coração 
Queria conseguir revidar
Mas sou apenas um na multidão.

Luto pelo que não existe 
Dois não é um só 
Madrugada cai firme no que é triste 
E transforma boas ações em pó.

Compaixão é algo não esperado
Meu escudo está no chão 
Já não tenho munição 
Entendi que tudo é em vão.

Querem derrubar 
Me vencer 
Sou o erro astuto por não saber 
Atribuo a mim meu não ensolarar.

Jamais quis que fossem assim
Sei que não sou perfeito 
Fiz de tudo para evitar o fim 
Mesmo com feridas abertas no peito.

Meu filme não vai reprisar
Tampouco terminar 
A água quente não consegue me queimar 
Eu sou meu pesar.

Eu sou me pesar.

Igor Gonçalves 

quinta-feira, 4 de julho de 2019

Ofuscado

O amor que te dei 
Deveria voltar através de você 
Mas se perdeu onde não sei 
E hoje não te enxergo de uma vez. 

Separações diárias vão me consumindo 
A tragédia anunciada do que fiz 
Nunca valeu de nada 
E, passageiro, fiquei no ponto.

Não embarquei naquilo que perpetuei 
Esculpi a perfeição na sua imagem 
Entrei no palco onde sempre lutei 
Carregado de marcas e coragem.

Mas, sua encomenda atrasou 
Assim fez meu peito desmoronar 
Do alto dos meus 26 
Eu ainda não aprendi a lidar.

Te mostrei meu lar 
A mobília bagunçada eu tentei esconder 
Precisava do que você pode dar 
Um pouco, ao menos, para não perecer.

Hoje enlouquecido e querendo gritar 
A noite insiste em perfurar 
Você não sente nada 
Ou apenas existiu para me machucar?

Decepções regem a sinfonia da minha alma 
Perco tempo pensando em como me resolver 
Um pouco de calma para me reerguer 
Tolo, acreditei mais uma vez.

A angústia percorre minhas veias 
E manda ao meu coração o que não existe 
Bombas de sangue não são suficientes 
Se minha raiz, morta, destrói tudo.

Sigo indiferente e calado 
Queria ouvir um pouco de você 
Me sentir amado 
E não perguntar o porquê.

A santa certeza de que tudo passa
Rege a liquidez da minha razão 
Eu sou uma escuridão 
Não sou visto por uma multidão 
Só peço para você não ir 
Mas é tarde demais. 

Igor Gonçalves