sábado, 16 de março de 2019

Versos que não escrevi

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Minhas mãos estão frias
O motivo foi causado pelo que vejo no espelho
Parei o trânsito acenando contra os carros 
O acidente foi grave, me selou os lábios.

Para nunca mais voltar
Sem saber o que dizer
Passo noites em claro sem entender
Porque os dias não são finais de entardecer.

Abro páginas de jornais
Palavras abertas fecham o que acendi 
Fogueira de sinais 
Que há muito tempo esqueci.

Eu tentei de vários jeitos proceder
Até outra pessoa tentei ser
Desliguei sentimentos para não me importar 
E tudo que consegui foi afundar.

Nesse rio de iodo do qual não sei nadar
Afogo no meu próprio veneno
Que tomei pensando ser cura
Daquilo que jamais me faria pleno.

O que me faria completo seria não saber 
O resultado do jogo que ninguém quis jogar 
Volto correndo para dentro do espelho
E de lá faço minha sorte rodar.

Preso em desafios que não podem se fechar
Chaves velhas não vão abrir 
A passagem que cavei foi profunda 
E de lá não quero sair.

Nem por mal, nem por bem
Apenas por achar que nada me entretém 
Não há nem o que discordar 
Passos rápidos são fáceis de tropeçar.

E se um dia eu voltasse a viver 
Da forma que alguém escolheu 
Eu relutaria mil vezes para levantar 
Pois no final apenas quem sofre sou eu.


Igor Gonçalves 

domingo, 10 de março de 2019

Às vezes me desabafo

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Será o fim se eu não acreditar 
Assim as feras irão me devorar 
O que preciso para sair dessa escuridão? 
Minha mente é um lar vazio, um porão. 

O escuro não vale nada 
Lampejos de esperança iluminam a estrada
Quando não penso para onde ir 
Penso que talvez seria melhor não existir.

No entanto, isso significaria o sofrimento 
Alheio, é claro.
O meu talvez iria se dissipar 
E assim minha alma deixaria de trabalhar.

Me arrasto em fios de humanidade 
Tudo que puxo se solta rapidamente 
O problema sou eu, evidentemente
Um carrasco da própria mentalidade.

Um assassino não confesso 
Um réu inquieto 
Um juiz sem processo 
Um palmo de calma sem afeto.

Isso já está ficando desgastado
Meus pés sentem a morbidez do cerrado 
A escassez do que está errado
É a figura de um céu amaldiçoado.

Por que me sinto em dívida? 
Parece que comprei passagem só de ida 
O destino foi traçado randomicamente 
Escolhas impensadas destroem a gente.

Acontece que eu 
Sou movido ao breu 
Solitariamente incansável 
Busco paz em um oceano instável.

Onde é que saio?
Quando deixarei de lado esse ensaio
Incessante gota que trasborda 
A tônica de uma vida morta.



Igor Gonçalves

sexta-feira, 8 de março de 2019

Os pingos que fazem tempestade


Sinto vontade de chorar 
Todas as angústias escorrem pelo meu rosto
Minha alma se tornou um quarto oco
Sutilmente esvaziado a contragosto.

Vejo carros passando pelo trânsito 
Me atropelando com suas vaidades
Dizendo palavras bonitas 
Que não passam de meras mentiras.

A experiência não vem com a idade
Vem com taças de sangue servidos ao mundo
O tempo se torna tempestade 
E meu pesar fica mais profundo.

De que adianta dizer a verdade
Se estão dispostos a te enganar
Querem fazer um banquete do seu coração
Misturadas a leveza dessa escuridão.

A manhã se organiza após o adormecer
Lá sou o que quero e posso escolher 
Despertado vivo na fuga do meu ser 
Que, precipitado, cai do abismo sem sofrer.

E a queda não machuca mais 
Os ferimentos existem e sangram demais 
A cura para o meu desalento é desconhecida
Posso andar milhas e sei que não há saída 

Mas se não há como fugir 
Como posso continuar a escrever
Esses sentimentos que não param de surgir
E que estão misturados para alguém ler.

As palavras que sucedem meu impacto 
São vestígios da poeira de um grande fato
Me tornei dependente de um sofrer
Que não consigo esquecer

Que vive para me enfraquecer 
E por alguns segundos eu tento vencer
Sou premiado pela minha bravura
E no fim, a realidade mostra que não tem cura.

Um homem não deve se desesperar
Seguir em frente é uma solução plausível
Mesmo que tudo em sua volta 
Seja um labirinto de saída impossível. 


Igor Gonçalves