quarta-feira, 10 de julho de 2019

Arrefecido



Mãos que carregam o limbo 
Reerguem o que quis arrefecer 
Esse mundo de lodo ora caos, ora lindo 
É a presa fácil do que quer me adoecer. 

O peito estourado é um babel 
Dispersa vários ruídos dissonantes 
Vem ventania que corta como cinzel 
Todos esses agridoces instantes. 

Por fora aparentar a maior fortaleza 
Por dentro se aguentar como anjo sem asas
Que de tanto voar sem rumo perdeu leveza
E caiu perdido nesse monte de estradas.

Em minha tentativa de viver o romance 
Falhei ao colocá-lo como ator principal
Do filme da vida cheio de nuance 
Que se confunde com meu ideal.

Uma ferramenta que pode me levar onde for
Mas que não é indispensável 
Sem antes conhecer meu amor 
Aquele próprio que fiz anulável.

Ecoa em meu peito uma vontade insaciavel 
De reverberar por mim uma força motriz 
Capaz de me tirar do abismo que criei 
Inundar meus versos em algo que não sei.

Mas tento conceituar 
Os olhos de outrora não vieram me resgatar 
Os meus abertos não conseguem reconhecer 
Que mundo é esse sem você?

Criei algo tão forte 
Tão prematuro 
Eu relaxei
Sem estar seguro.

A chuva logo vem 
Que medo é esse?
Perdi a fé em tudo 
Não há interesse. 

E logo no escuro 
Estou distraído 
Sou logo consumido 
Sou destruído.

Palavras já não podem me derrotar
Quem é que vai ocupar 
O seu lugar? 

Já faz tempo em que conheci 
E não aprendi 
Aquilo faz insistir 
Mas por pouco tempo nos faz sorrir.

A felicidade é curta 
Nossa voz é muda 
Alguém me escuta

Meu coração parou.

Igor Gonçalves 


segunda-feira, 8 de julho de 2019

Meu pesar


O que escrevi ficou no papel 
Me entrenti em um mundo cruel 
Disseram que meu erro foi se entregar 
Para alguém que não tinha nada para dar. 

Cancelei meu romance antes do lançamento 
Vi que não era o momento 
Abracei meus sonhos idealizados 
Mantive-os presos em mim como escravos. 

Essa idéia de que o não é opção
Me corrói da alma ao coração 
Queria conseguir revidar
Mas sou apenas um na multidão.

Luto pelo que não existe 
Dois não é um só 
Madrugada cai firme no que é triste 
E transforma boas ações em pó.

Compaixão é algo não esperado
Meu escudo está no chão 
Já não tenho munição 
Entendi que tudo é em vão.

Querem derrubar 
Me vencer 
Sou o erro astuto por não saber 
Atribuo a mim meu não ensolarar.

Jamais quis que fossem assim
Sei que não sou perfeito 
Fiz de tudo para evitar o fim 
Mesmo com feridas abertas no peito.

Meu filme não vai reprisar
Tampouco terminar 
A água quente não consegue me queimar 
Eu sou meu pesar.

Eu sou me pesar.

Igor Gonçalves 

quinta-feira, 4 de julho de 2019

Ofuscado

O amor que te dei 
Deveria voltar através de você 
Mas se perdeu onde não sei 
E hoje não te enxergo de uma vez. 

Separações diárias vão me consumindo 
A tragédia anunciada do que fiz 
Nunca valeu de nada 
E, passageiro, fiquei no ponto.

Não embarquei naquilo que perpetuei 
Esculpi a perfeição na sua imagem 
Entrei no palco onde sempre lutei 
Carregado de marcas e coragem.

Mas, sua encomenda atrasou 
Assim fez meu peito desmoronar 
Do alto dos meus 26 
Eu ainda não aprendi a lidar.

Te mostrei meu lar 
A mobília bagunçada eu tentei esconder 
Precisava do que você pode dar 
Um pouco, ao menos, para não perecer.

Hoje enlouquecido e querendo gritar 
A noite insiste em perfurar 
Você não sente nada 
Ou apenas existiu para me machucar?

Decepções regem a sinfonia da minha alma 
Perco tempo pensando em como me resolver 
Um pouco de calma para me reerguer 
Tolo, acreditei mais uma vez.

A angústia percorre minhas veias 
E manda ao meu coração o que não existe 
Bombas de sangue não são suficientes 
Se minha raiz, morta, destrói tudo.

Sigo indiferente e calado 
Queria ouvir um pouco de você 
Me sentir amado 
E não perguntar o porquê.

A santa certeza de que tudo passa
Rege a liquidez da minha razão 
Eu sou uma escuridão 
Não sou visto por uma multidão 
Só peço para você não ir 
Mas é tarde demais. 

Igor Gonçalves